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Por Bruna Weis, Expedito Engling e Guilherme Andriolo
Quanto custa uma grande obra, como a duplicação de uma rodovia? A resposta mais simples se trataria, provavelmente, de milhões – ou até bilhões – de reais. Entretanto, essa não é uma questão que passa apenas por cifras em dinheiro – há vidas envolvidas. Cantos que guardam a história e a identidade de várias gerações. Empreendimentos que são, muitas vezes, a única garantia de sustento para famílias inteiras. Acesso à saúde, à educação, à cidadania. Comunidades onde a rodovia passa pelo seu passado, seu presente e que temem pelo seu futuro.
“Vinte de julho de 2021. É um dia histórico para o Rio Grande do Sul. No Dia do Amigo, celebramos um acordo fruto da mobilização de toda uma comunidade, conduzido pelo governo e com a parceria da iniciativa privada. Celebramos hoje a cooperação, uma parceria em que todos ganham, principalmente as 6 milhões de vidas que por aqui circulam anualmente e que se submetem aos riscos de uma estrada não duplicada, incluindo aqueles que escoam boa parte da produção do nosso estado”.

Essa foi parte do discurso do governador Eduardo Leite (à época, no PSDB) ao assinar o contrato que firmou a parceria com o grupo espanhol Sacyr para a concessão da RSC-287, a principal via de ligação entre a região metropolitana e o centro do Rio Grande do Sul. A rodovia ficaria sob a responsabilidade da iniciativa privada pelos 30 anos seguintes. O objetivo era bastante claro: a duplicação de todo o trecho de 204,5 quilômetros entre Tabaí e Santa Maria. Para isso, estava previsto um investimento de R$ 2,7 bilhões.
Mas não era tão simples quanto parecia. Enquanto a obra acontece, a vida segue – moradores e empresários das margens da via precisam conviver diariamente com o vai-e-vem de máquinas, a abertura de valas e o barulho do tal “progresso” chegando.
Há uma opinião quase unânime: a duplicação é importante e traz um avanço significativo para os cerca de 628 mil habitantes dos 14 municípios pelos quais a RSC-287 passa. Mas, ao mesmo tempo, ela precisa levar em conta as demandas e o bem-estar dessa população – o que nem sempre tem sido percebido. Hoje, o sentimento em relação à rodovia é de medo, preocupação e descaso. Como será daqui pra frente?
No Estudo de Impacto Ambiental da obra, publicado em 2022, a Rota de Santa Maria, empresa que representa o grupo Sacyr na responsabilidade sobre a rodovia, estimava que 643 imóveis precisam ser desocupados ou desapropriados para que a duplicação se concretizasse. Desse modo, deixam de pertencer a seus proprietários e passam ao poder público. O procedimento já é previsto pelo artigo 5º, inciso XXIV da Constituição Federal, mas mediante justa e prévia indenização em dinheiro – o que, segundo moradores, não foi cumprido em todas as vezes.
Não bastasse isso, os acessos a propriedades – que são mais de 2 mil em todo o trecho sob concessão – seguem sem regularização. No contrato que foi assinado em 2021, estava previsto que a Rota de Santa Maria seria responsável por notificar os proprietários dos imóveis para que eles fizessem as adequações necessárias. Em abril de 2025, o governo do estado anunciou que a notificação seria de sua responsabilidade, enquanto que a execução das obras nos acessos deveriam ser feitas pela concessionária – o que não avançou. O tema chegou a motivar uma reunião na Prefeitura de Santa Cruz do Sul em junho, convocada pelo promotor do Ministério Público, Érico Barin, e mobilizando prefeitos e lideranças de municípios lindeiros à rodovia. Entre a classe política, há relatos de que a empresa do grupo Sacyr está cumprindo a sua parte, mas as ações são barradas pelo Piratini.
O cenário se agrava ao considerar os fortes impactos causados pelas enchentes de abril e maio de 2024, que devastaram comunidades e arrancaram trechos inteiros da rodovia. Mais de um ano depois, em partes de Venâncio Aires, Candelária e Paraíso do Sul, a passagem ainda ocorre em desvios provisórios – e que já foram afetados por chuvas subsequentes de menor volume. Devido ao valor investido em obras emergenciais, a Rota de Santa Maria chegou a pedir a revisão do contrato.
Mesmo com a iminência da entrega dos primeiros trechos duplicados, em Tabaí e Santa Cruz do Sul, prevista para agosto de 2025, ainda há mais perguntas do que respostas sobre as obras. Afinal, para quem a RSC-287 estará trazendo progresso?

Nota de esclarecimento
A reportagem entrou em contato com a Rota de Santa Maria na terça-feira, 24 de junho de 2025, questionando sobre atualizações da obra e posicionamento acerca dos problemas aqui descritos. Até o fechamento do texto, às 18 horas de sexta-feira, 4 de julho de 2025, as perguntas ainda não haviam sido respondidas. O espaço segue aberto para manifestação da concessionária.
Mapa interativo mostra os pontos visitados pela equipe e abordados ao longo da reportagem
📍 Km 28, Tabaí
Rezando por asfalto
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A missa de domingo começa às 8h, mas o barulho da obra chega antes. Na realidade, ele permanece durante os sete dias da semana. Vem pelas pedras que rolam, pelo rangido das máquinas, pelo chiado dos pneus que afundam na terra vermelha. A igreja, que sempre foi refúgio e ponto de encontro da comunidade de Tabaí, agora respira poeira. O estacionamento virou um canteiro improvisado. Onde antes se deixava o carro com pressa para não perder o início da celebração, hoje se pisa com cuidado, desviando de buracos e cascalhos. E o pior é que ninguém sabe até quando tudo isso ficará ali. Apesar do abandono ao redor, lá dentro, sob o teto ainda intacto, a fé resiste.
Geni Agnes é uma das poucas que ainda mantém as janelas abertas. Não porque o ar seja bom – não é, mas porque precisa ver, com os próprios olhos, o quanto ainda falta. “Aqui a gente não precisou sair, mas vai ficar totalmente complicado”, explica. É ministra da Eucaristia, moradora da região há quinze anos. Quando chegou, o filho Igor tinha quatro. Agora é ele quem dirige, leva os vizinhos para casa quando o barro toma conta da estrada. E isso já virou rotina. Mesmo que no horizonte a frente tudo parece seguir a um caminho positivo, no momento, o cenário não passa de uma incógnita sem futuro. Num tom que mistura constatação e cansaço, Geni resume: “quando não chove, é a poeira. Quando chove, é o barro”.
“Quando não chove, é a poeira. Quando chove, é o barro”. Geni Agnes, ministra da Eucaristia na Igreja São Cristóvão
As mudanças chegaram sem pedir licença. Primeiro vieram os engenheiros. Depois, os tratores. E, por fim, a sensação de que a comunidade havia sido esquecida. Os moradores até tentaram, realizaram protestos buscando ser ouvidos. O que era pra ser uma voz em busca de respostas, todavia, tornou-se uma afronta aos senhores de terno e capacete de obra. “Eles não gostaram muito desses protestos… acho que isso soou um pouco mal pra eles”, desabafa Geni, com a voz embargada de frustrações. Ela conta que tentou evitar o conflito. O filho mais velho, Gabriel, queria participar dos atos contra o ritmo da obra. Mas Geni, com o peso de quem já viu muito, pediu calma. “Eu disse: Gabriel, eles vão mexer com o vespeiro. Eu sei o que é mexer com quem está no comando. Dito e feito, eles simplesmente não pararam, estão castigando”.
Não foi só a fé que virou resistência. Também os móveis, os panos, os hábitos. Geni aponta para o pano de chão, vermelho de barro. “Esse nem é o pior. Tem um lá em casa que pode usar 100 litros de Qboa [água sanitária], que não limpa mais”. As casas próximas foram engolidas pela poeira nos dias de sol e pela lama nos dias de chuva. Algumas, encurraladas entre acessos bloqueados e passagens improvisadas, viraram ilhas.

No coração da igreja, as velas continuam acesas. Os bancos, agora empoeirados, seguem alinhados. O altar mantém suas flores artificiais – resistentes ao tempo, mas não ao descaso. A fé da comunidade virou mais do que espiritualidade, tornou-se resistência. “Nós estamos rezando a cada domingo, a cada missa, para que tudo dê certo logo”, diz Geni. Às vezes, ela conversa em silêncio com a imagem de São Cristóvão, o padroeiro dos viajantes, protetor das estradas e caminhos. “Ele há de olhar pra baixo e dar uma ajeitada nisso. Tem coisa que a gente também consegue resolver com oração”. São orações em forma de apelo. Não por milagres, mas por respeito.
E o respeito, para os moradores dali, nunca chegou junto com as máquinas. Quando tiraram a ponte, sequer explicaram. Ao instalar as galerias, não perguntaram se no lugar chovia demais. “Isso tem grande chance de acontecer”, alerta Geni, preocupada. “Ali é baixada. Quando dá muita chuva, já era problema antes. Agora, é pior”. O que seria solução virou risco, e o que seria avanço virou recuo. “Cada semana é uma novidade, um dilema”, resume Geni, com a fala desesperançosa de alguém que vive cotidianamente essa realidade.

No lugar da antiga ponte, foram colocadas galerias. O histórico da região fala por si: mesmo com a velha estrutura, as águas já causavam transtornos. Com essa nova implementação, o temor é que as chuvas tornem a situação ainda pior. Um exemplo recente está no km 167 da RSC-287, entre Paraíso do Sul e Novo Cabrais, onde um desvio provisório, também feito com galerias, cedeu durante as chuvas de junho de 2025. A força da água levou a estrutura, deixando a rodovia intrafegável e comunidades isoladas.
A comparação acende um alerta. Os moradores temem viver o mesmo — com alagamentos, enchentes e o risco constante de isolamento. O progresso, ali, chegou como uma avalanche: rápido, pesado, sem pausas para escutar. “Eu nunca falo isso pra eles aqui [os vizinhos], para não deixá-los ainda mais indignados”, diz Geni, com cuidado. “Mas eles [da Rota de Santa Maria] deveriam ter se importado mais com esse lugar, ter um pouco mais de consideração. Isso ia ficar mais bonito. E não ia ter toda essa revolta do pessoal”.
Talvez seja esse o ponto mais difícil de aceitar: não o barro nos pés, mas a falta de voz, a invisibilidade. Geni sabe que muitos nasceram e envelheceram naquele chão, que as mudanças chegaram com força, sem diálogo e sem cuidado. Talvez o que resta é o mínimo de atenção ou, quem sabe, misericórdia. “Vamos pedir a Deus que eles usem pelo menos um pouquinho de misericórdia com esse povo de Tabaí.” Misericórdia… essa palavra não é nenhuma submissão, é resistência do jeito que aprendeu: com oração, acolhimento e firmeza.
Olhando de longe, parece apenas uma estrada sendo duplicada. Mas, quando se aproxima, percebe-se que há vidas atravessadas por essa obra. Histórias que não cabem nos mapas ou nos relatórios de engenharia. Gente como Geni, que limpa a poeira de um chão que não escolheu ser ocupado. Que reza para que o entulho vá embora. Que ainda encontra tempo para cuidar da fé dos outros. Que, entre um trator e outro, continua acreditando que “tem coisa que a gente também consegue resolver com oração.”
Enquanto os mapas do progresso mostram traços retos, as histórias que margeiam essas linhas continuam tortas, poeirentas e invisíveis. Mas resistem. Entre uma missa e outra. Entre uma oração e um maquinário que não para.
📍 Km 28, Tabaí
Onde há descaso, há boa vontade
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Tabaí possui uma história diferente de muitas cidades gaúchas: a própria existência do município está intimamente ligada à sua localização próxima a importantes rodovias. A sede administrativa fica exatamente onde a RSC-287 se encontra com a BR-386, outra relevante ligação entre a região metropolitana de Porto Alegre com o Vale do Taquari e o norte do estado. Sempre foi natural para os moradores conviver diariamente com as largas faixas de asfalto e o fluxo de veículos em alta velocidade.
Mas desde que começou a movimentação mais intensa das máquinas da Rota de Santa Maria no município de 4.461 habitantes, distante 80 quilômetros da capital gaúcha, novos elementos se somaram a essa paisagem singular. Grandes valetas e camadas largas e espessas de lama surgiram nas margens da rodovia, dificultando um dos direitos mais simples de um cidadão: o de ir e vir.
Logo nos primeiros metros do trecho sob concessão, a apenas alguns passos da igreja, já se nota um problema. A rua João Gonçalves de Oliveira, onde se concentra parte dos moradores do núcleo urbano de Tabaí, ficou sem acesso a partir da rodovia: onde antes era um cruzamento, agora só há um atoleiro, impenetrável até mesmo para as mais potentes caminhonetes.

A solução precisou partir da própria comunidade, especificamente da serraria que leva o mesmo nome da igreja: São Cristóvão. Reza a fé católica que Cristóvão, que viveu no século 3 depois de Cristo, era um homem grande e forte. Após ser batizado cristão, já adulto, aceitou a tarefa de ajudar as pessoas a atravessarem um rio perigoso. Assim como o santo que os emprestou o nome, os proprietários da serraria também assumiram a missão de facilitar uma travessia perigosa. Tomaram a decisão de deixar aberto 24 horas por dia o portão do terreno, uma vez que a estrada que corta a propriedade retoma a ligação entre a RSC-287 e a rua João Gonçalves de Oliveira.
A boa vontade foi crucial para a comunidade – em uma manhã de sábado, circula mais de um carro por minuto pela estrada particular. Ainda assim, há preocupação com a segurança. Maria Terezinha Lima, que comanda a serraria ao lado do marido Cláudio, relata que o movimento mais intenso durante a semana é ao fim da tarde, justamente quando recolhem as toras utilizadas nos trabalhos do dia. “Quase dá acidentes, porque a gente tem empilhadeiras que trabalham durante o dia. E a gente está sempre botando toras ali, então fica dificultoso também para nós”, lamenta a proprietária.


Além disso, a duplicação demandou mudanças na propriedade. A Rota de Santa Maria exigiu que o portão principal da serraria fosse desfeito e reconstruído 60 centímetros para trás. Apesar de a indenização ainda não ter sido paga, as partes já entraram em acordo – o que não significa que já tenham definições do que será feito de fato. Os proprietários afirmam precisar de dois portões – um para a entrada principal, outro para o transporte das serragens – mas vivem a angústia de não terem respostas da concessionária sobre como ficará o resultado. “Vai ter um metro e meio de altura ali. Tu imagina como é que a gente vai passar com uma carga de tora? A gente não sabe. Eles também não sabem explicar, porque toda hora muda o projeto. E a gente não sabe como fazer”.
Terezinha lembra da primeira vez em que viu com os próprios olhos o impacto da obra. Certo dia, antes dos primeiros raios de sol darem as caras, enquanto o vento frio ainda tomava conta das margens do asfalto, uma vizinha se preparava para mais uma jornada de trabalho em uma fábrica. Caminhava com dificuldade em meio à penumbra das horas que antecedem a alvorada, esperando o transporte que a levaria ao expediente. Foi quando acabou surpreendida pelo lamaçal.
De sua casa, no mesmo terreno onde fica a serraria, Terezinha despertou ao notar que havia alguma movimentação incomum lá fora. Se deparou com a vizinha, coberta de lama até acima dos joelhos, logo em frente ao seu portão. Sua generosidade não permitia que ignorasse a cena: deixou a amiga entrar para que pudesse lavar os pés antes de ir encarar o ofício. Constrangida, a vizinha até tentou dispensar a bondade da anfitriã, dizendo que se limparia na empresa. Ambas sabiam que o lamaceiro não era culpa de nenhuma delas.
“Já várias pessoas estão se mudando, sabe? O mercadinho fechou, abriu em outro lugar. Porque estão com medo, não tem acesso. Eles [Rota de Santa Maria] terminaram com o acesso. Simplesmente chegaram e foram destruindo tudo. Vai ser bom pra gente? Acho que vai ser muito bom. Mas eu acho que eles tinham que ter pensado no comércio”, desabafa Terezinha.
“Vai ser bom pra gente? Acho que vai ser muito bom. Mas eu acho que eles tinham que ter pensado no comércio”. Maria Terezinha Lima, proprietária da Serraria São Cristóvão
📍 Km 29, Tabaí
Um respiro em meio à lama
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Marlete da Silva havia dormido mal e dessa vez o problema não era o barulho do seu respirador, mas sim o som alto que os carros faziam quando ficavam atolados no lamaçal formado em frente a sua residência. Ao sentar na cama, desligou o equipamento que a ajuda a respirar durante a noite e retirou a máscara que cobria seu nariz. Ainda pensava sobre os muitos meses de sofrimento que passou por conta da falta de ar.
Quando os sintomas começaram, quatro anos antes, sua primeira desconfiança foi a presença de um encosto. Acreditou que os trabalhos que fazia na umbanda poderiam estar sugando suas energias. Porém, após um episódio em que perdeu a consciência, descobriu que sua dificuldade para respirar, na realidade, se devia a Covid-19.
Em 2021, quando internada, a cidade passava por dificuldades em conseguir tubos de oxigênio. O Brasil, em um panorama geral, enfrentava momentos de superlotação de UTIs e uma grande onda de negacionismo. Marlete não conseguia entender que algumas pessoas acreditavam que aquela doença que quase a matou não passava de uma “gripezinha”.
Em meio a toda essa situação, seu marido a deixou, não conseguia cuidar dela, não queria aquilo para a vida dele. Foi difícil, mas agora, sozinha em sua casa, tentava viver da melhor forma possível. Mantinha sua cabeça ocupada reorganizando os móveis e, às vezes, até dava uma chance para o amor. Contudo, as obras da duplicação da RSC-287 haviam tomado o quintal de sua morada e a vista de sua janela era praticamente tapada por pedras e barro. Sentia que vivia dentro de uma valeta.
Inicialmente, se preocupou ao pensar no caminho que uma ambulância teria que fazer para chegar em sua casa, todavia tentava viver um dia de cada vez. O barro ainda cobria o entorno, a poeira entrava pelas frestas e o barulho das máquinas se misturava à solidão da sala. As coisas seguiam incertas, como sua saúde, como o amor, como o amanhã. Porém ali, sentada na beirada da cama, Marlete respirava. E para quem já teve o ar por um fio, isso era mais do que suficiente.
📍 Km 29, Tabaí
Promessas e canteiros de obra
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Três anos – esse é o tempo que Sônia espera para ser indenizada após sua casa ser parcialmente demolida por conta da duplicação da RSC-287. Não é fácil acordar todos os dias e ver os restos do que já foi sua morada. E era ainda mais frustrante ver que seu quintal agora fazia parte de um canteiro de obras.
Na primeira conversa com a Rota de Santa Maria, Sônia foi avisada de que a parte da frente de sua residência estava dentro da faixa de domínio e teria de ser imediatamente desocupada, pois seria derrubada para dar espaço à construção da nova via.
Observando a construção, que agora não tinha mais portas nem janelas, lembra: “nós tínhamos uma moradora aqui, uma guria que morava sozinha, eles deram dois meses para ela sair. Só que assim, já fazem três anos.”.
Com a velocidade que as coisas aconteciam, acreditou que tudo seria resolvido igualmente rápido. Porém, no momento em que o pagamento deveria ser feito, os diálogos com a concessionária foram diminuindo, suas perguntas deixaram de ser respondidas e ela acabou por ficar no escuro. A única saída que encontrou foi entrar com um pedido judicial.
Mas a falta de pagamento não era o único problema enfrentado por ela. “A gente não tem, às vezes, como sair de casa. […] eu e minha guria não conseguimos sair pra trabalhar por causa do barro. […] E assim, tá bem complicado, porque eles poderiam facilitar a saída das casas, né?”.
“A Rota de Santa Maria está castigando, olha só essa estrada”. Sônia Maria Ferreira, moradora de Tabaí

A rua onde mora, antes de cascalho e terra batida, está irreconhecível. Caminhar ali fica inviável em dias de chuva ou umidade –nem alguém com galochas seria capaz de passar pelo local sem ao menos escorregar. Sônia já havia presenciado mais de uma situação de carros atolados, que só saíram do local com o auxílio de um guincho.
As obras estão quase chegando ao fim no km 29, mas a esperança de Sônia ainda não. Ela tem certeza que tudo tomará um rumo melhor quando a justiça finalmente chegar, mesmo que ainda demore ou pareça tão distante de se tornar algo concreto. A cada dia um mínimo avanço já é uma conquista. Quando receber o que é seu por direito, ela não comemorará como alguém que vence uma batalha, mas como quem resgata um pedaço de si.
📍 Km 30, Tabaí
Lama, lápis e lentidão
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No coração de Tabaí, a Escola Estadual de Ensino Médio Pedro Rosa se estende de um lado da RSC-287 como se tivesse sido plantada ali antes da correria, e realmente foi. É a única escola estadual do município e atende mais de 600 alunos – muitos deles atravessam a rodovia todos os dias para chegar às aulas. A rotina, que já era perigosa, está prestes a se tornar insustentável com o avanço das obras de duplicação da estrada.
A comunidade escolar (pais, professores, motoristas de transporte estudantil e autoridades locais) teme que a nova configuração da rodovia retire o pouco que ainda resta de segurança no trajeto até a escola. Como projetada, a duplicação não contempla uma via lateral exclusiva no trecho em frente ao colégio. A passarela prometida, além de distante, pode não atender diretamente quem mais precisa: os estudantes que descem do transporte escolar ou são deixados por seus pais logo na margem da estrada, muitas vezes entre valetas e barro.
Há meses, o poder público municipal cobra uma readequação do projeto. A proposta é clara: construir uma via paralela à rodovia naquele ponto, garantindo acesso seguro à escola e às residências próximas. A demanda foi levada a audiências públicas e reuniões com representantes da concessionária e do governo estadual. A comunidade espera, mas o retorno não vem. Quando vem, chega tarde demais, como quem responde por obrigação e não por escuta. Enquanto isso, caminhões passam em alta velocidade a poucos metros da entrada da escola, e a tensão é visível no rosto de quem acompanha os filhos até a beira do asfalto.

A duplicação da RSC-287 entre Tabaí e Santa Maria é uma das maiores obras de infraestrutura em curso no Rio Grande do Sul. Promete fluidez, segurança e desenvolvimento. Mas o trecho que corta Tabaí revela outra face desse progresso: a que ignora pequenas comunidades em nome de uma logística desenhada à distância. Ao lado da escola, moradores relatam a falta de drenagem adequada nas vias alternativas, ruas cobertas de lama e até falta de acesso à água potável após o início das movimentações da obra.
Os corredores do Pedro Rosa, que deveriam ser preenchidos por conversas sobre provas e sonhos, abrigam também a preocupação constante com o que pode acontecer do lado de fora. O medo não mora apenas nos números de acidentes, mas na sensação de que, mesmo diante de uma demanda justa, a escola está sendo esquecida. Um lugar de formação não pode ser tratado como obstáculo técnico.
O cenário escancara uma contradição dolorosa: o que deveria aproximar, distancia; o que deveria proteger, expõe. As máquinas já chegaram, o barro já cobre as laterais e a obra avança mesmo sem responder às perguntas mais básicas da comunidade. O impacto não está apenas nas estruturas erguidas, mas no projeto que não considera, na rotina que foi virada do avesso e no silêncio que se impõe onde era para ter diálogo. No Pedro Rosa, a travessia segue, feita a pé, entre buracos, medo e preocupação, por quem só queria chegar em paz na escola.
📍 Km 67, Venâncio Aires
O mercado nas mãos do tempo
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Gustavo Rodrigues dos Santos é conhecido por todos em Venâncio Aires como “o Mão”. O apelido carrega a força de quem se fez ali mesmo, na beira da RSC-287, onde por mais de duas décadas manteve de pé o “Mercado e Açougue do Mão”, um ponto de referência para moradores, agricultores e viajantes, que, ao longo dos anos, viraram fregueses fiéis. Agora, diante das obras de duplicação da rodovia, Mão já não sabe se permanece ou se vende tudo e vai embora. “Este ano, eu quero que seja o último. Tá cada vez mais difícil trabalhar aqui”, confessa, com um misto de cansaço e frustração.
Localizado no limite da faixa de domínio da estrada, o mercado vive um momento de incerteza total. A duplicação ainda não chegou com as máquinas em frente ao seu ponto, mas a sombra da desapropriação já paira sobre o telhado. “Eles vieram aqui, fotografaram. Disseram que eu não posso fazer mais nenhuma obra, nenhuma modificação no prédio”, conta Mão. Mesmo que o negócio tenha sido construído há 24 anos, de forma legal e com aval da Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), responsável pela rodovia na época, agora ele vive a ameaça de perder não apenas sua fonte de renda, mas a história construída ali. “Se puxar 15 metros para dentro, como falam, já passa cinco metros para trás do mercado. Teoricamente, está todo irregular”.

Ao lado da insegurança jurídica, vem o receio mais imediato: o de perder clientes. Segundo relatos, o projeto de duplicação pode limitar a travessia direta entre os dois lados da rodovia, algo essencial para quem abastece o mercado vindo do sentido oposto. “Se realmente fizerem o retorno só lá depois da ponte do presídio, é quase três quilômetros para quem vem de Venâncio. Muita gente aqui vem a pé, de bicicleta. Com isso, metade do meu movimento eu perderia”, lamenta Mão. Ele mesmo já viu acontecer o pior com outros comerciantes na BR-386, que liga Canoas com o município de Iraí, em Santa Catarina: “ali não existe mais comércio. Os pequenos que tinham à beira do asfalto, sumiram todos”.
As queixas do Mão não param por aí. Em sua visão, o problema não é apenas a obra, mas a forma como ela é conduzida: com pressa nos papéis e lentidão nas máquinas,e, sobretudo, sem escuta. “Quando meu pai chegou em Venâncio, já se falava em duplicar a 287. Faz mais de 40 anos. Ele dizia: ‘vou morrer e não vou ver isso’. E morreu sem ver. Eu acho que vai acontecer a mesma coisa comigo.” Para Mão, o entrave está no excesso de burocracia e na ausência de diálogo. “Tudo é travado. Mudam o projeto, tem que aprovar de novo, volta tudo do zero. Se fosse na prática, na conversa, andava mais”.
“Quando meu pai chegou em Venâncio, já se falava em duplicar a 287. Faz mais de 40 anos. Ele dizia: ‘vou morrer e não vou ver isso’. E morreu sem ver. Eu acho que vai acontecer a mesma coisa comigo”. Gustavo Rodrigues dos Santos, proprietário do Mercado e Açougue do Mão.
Aos olhos de quem passa, o Mercado do Mão pode parecer apenas mais um estabelecimento à beira da rodovia. Mas, por dentro, carrega a realidade de milhares de pequenos negócios que resistem enquanto podem, entre o medo de desapropriações, a queda do movimento e a sensação de que o progresso, quando vem, não é pra todos. “Se eu esperar cair o movimento pra vender, aí já era. Tu não pode tirar o leite todo da vaca e depois tentar vender ela. Tem que vender enquanto ainda tá dando leite”, diz, com a franqueza de quem já entendeu que na beira do asfalto, às vezes, é o tempo que atropela a esperança.
📍 Km 91, Santa Cruz do Sul
Faltam retornos, sobra indignação
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Mathias Bertram não fala apenas por si. Ele empresta a voz a uma comunidade de milhares de pessoas. Com mais de duas décadas em Linha Pinheiral, interior de Santa Cruz do Sul, Bertram viu sua região crescer em torno da RSC-287, transformando a antiga estrada de chão em eixo vital de conexões humanas e econômicas. “A gente depende totalmente dessa rodovia. Tem muita gente que trabalha em Santa Cruz, tem muita gente que trabalha em Venâncio, existe o comércio local. Então, tem a igreja, tem o salão da comunidade, tem o futebol, o ginásio, a escola, o posto de saúde. Então, tudo isso a comunidade está demandando a todo dia, a toda hora”, explica.
Mas é justamente essa proximidade que ameaça virar isolamento. A duplicação da rodovia, aclamada por muitos pela promessa de segurança e fluidez, chega à comunidade como um misto de alívio e inquietação. “A gente sabe que essa rodovia tem gerado muitos acidentes [inclusive] com mortes. Eu questionei alguns vizinhos e cada um tem mais que um conhecido que já perdeu a vida nessa rodovia”, diz Mathias. Mas logo depois vem a ressalva: “A gente vai ter que sair da nossa casa para acessar o colégio, andar 12, 13 quilômetros. Então, tudo isso dificulta demais a nossa mobilidade”.
A dor mais imediata, no entanto, é a incerteza. A comunidade foi surpreendida ao descobrir que o projeto original da duplicação contempla apenas uma rotatória no trecho que vai do km 89 ao 95 – área que abriga até 3 mil moradores. “Tanto que aqui na nossa região, nós temos somente uma rotatória que é a ligação com a ERS-405. E o resto do trecho, que envolve quase 13 mil pessoas aí, nem um retorno a mais”, pondera. A preocupação se estende também à vizinhança: sem uma alça de retorno prevista, moradores da Linha Seival, por exemplo, precisarão seguir até o pedágio de Venâncio Aires para então retornar e acessar suas casas. “Não faz sentido as pessoas terem que pagar pedágio, ir, voltar, fazer 12 quilômetros quase, para poder chegar na sua casa”.

Bertram lidera um esforço coletivo para mudar essa situação. Participou de reuniões com o prefeito de Santa Cruz do Sul, Sérgio Moraes, esteve em Porto Alegre com deputados e secretários, entregou um dossiê técnico com contagem de fluxo e propostas de adequações. “A gente está tentando tudo no diálogo. Já apresentamos diversas vezes esse pedido, já apresentamos um projeto de duzentas e poucas páginas, com um engenheiro fazendo uma contagem de fluxo, tudo isso a gente tem”, relata. Ele afirma que a concessionária se mostra receptiva, mas joga a responsabilidade para o Estado – e o Estado, por sua vez, devolve para a concessionária ou para o Conselho de Usuários. “É um enroleixon, sabe”.
A situação é especialmente crítica para empreendedores como ele. Proprietário de uma estrutura que recebe cerca de 1.200 pessoas por dia, Mathias teme que os acessos limitados derrubem seu negócio. “Se eu não consigo mais acessar do outro lado, eu já perco 30, 40% do meu movimento. E se o meu acesso não for muito próximo aqui, de repente eu perco mais 20, 30. Então, nós estamos falando de cemempregos”. O custo é alto também para o Estado: “meu boleto de imposto estadual esse mês deu R$ 76 mil”.
A desconexão entre o que é prometido e o que é vivido deixa marcas invisíveis, mas profundas. “A gente sabe que vai ter que andar um pouco mais, mas não é possível que a gente ande 12 quilômetros ou 6 ou 8 quilômetros para acessar o posto de saúde ou a escola da nossa comunidade”, finaliza.
Em Linha Pinheiral, a duplicação da RSC-287 atravessa não só o território, mas também a rotina de milhares. Cada quilômetro sem retorno é uma curva a mais entre o morador e o posto de saúde, entre o aluno e a escola, entre o comerciante e seus clientes.
📍 Km 103, Santa Cruz do Sul
O que ruiu não foi só o chão
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Selvina Zuege caminha devagar pelo pátio tomado por barro, tentando apontar os caminhos por onde a água entrou em casa depois da última chuva. Ela e o marido, Adelar, vivem há 30 anos no mesmo lugar, em Santa Cruz do Sul, e viram o entorno da casa se transformar desde o início das obras de duplicação da RSC-287. “Isso aqui é tudo terrinha da obra que veio. Tudo que é lugar tem obra e daí pra onde a água passa ela traz essa terrinha. Mas terrinha fininha, barro”, descreve. A terra escorreu barranco abaixo e se acumulou nos acessos, nos fundos da casa e até dentro do banheiro. “Nós não podíamos caminhar porque nós ‘caía’, porque esse barro é liso. É o maior perigo”.
O terreno onde moram foi sendo cercado por canteiros de obra, tratores e montes de entulho. A rotina tranquila, antes dividida entre o cuidado com o pátio, a casa e os netos, foi sendo substituída por noites mal dormidas, receio constante e sensação de impotência. “Todos os caminhos da água estavam trancados […] onde ela pôde descer, ela desceu”.

Selvina e Adelar sempre cuidaram pessoalmente dos bueiros e das valetas, um trabalho silencioso de manutenção que fazia parte da vida no interior. “Porque a gente conhece isso aqui, né? A gente sempre avisou eles que aqui ia dar problema”.
A chuva do início de maio de 2025 não foi das mais fortes, mas trouxe o maior estrago desde o início da duplicação. “Eu pensava, assim, que eles tinham que vir me ajudar a limpar, né? Porque eu estava, assim, num pânico”. O casal, já idoso, precisou limpar sozinho toda a sujeira deixada pelo barro. “Já limpamos tudo em redor, né? Porque veio água de tudo que é lado”.
“Eu pensava, assim, que eles tinham que vir me ajudar a limpar, né?”. Selvina Zuege, moradora de Santa Cruz do Sul
A frente da casa virou uma espécie de bacia para onde a água escorre. Atrás, o barranco cedeu, expondo a terra crua, solta, frágil. “A gente não pode mais deixar os netos “vim” brincar mais aqui atrás […]. Por causa desse buraco, os bisnetos não podem mais brincar aqui”. Selvina e Adelar têm sete bisnetos, falam com orgulho da família numerosa, mas lamentam as mudanças impostas pela obra. “Foi uma tristeza. O filho, com 51 anos, nunca saiu de perto da mãe, né? E agora ele vai sair”.
O filho deles precisou sair de casa depois que três moradias no terreno foram desmanchadas. “Aqui tinha três casas. […] Tiveram que tirar as três”. A construção principal permaneceu, mas as estruturas que completavam o lar foram eliminadas. Segundo o casal, houve pagamento de indenização por parte da concessionária responsável pela rodovia. Ainda assim, o processo foi apressado. “Eles deram prazo de um dia pro outro pra tirar as coisas, né? Então foi muito atropelado pra gente”.
O sentimento de desamparo aparece em cada gesto e em cada pausa na fala. Mesmo com o acordo formalizado, Selvina e Adelar não se sentem amparados. Com o passar dos meses, Selvina começou a fotografar e filmar tudo. Tentou registrar para provar e tentar ser ouvida. “Porque eu tive que reclamar, eles não estavam fazendo certo isso aqui, né? Daí eu tirei foto e mandei pra eles”. Em uma das imagens, que mostra com o celular, é possível ver a água entrando no banheiro da casa, avançando pela churrasqueira, cobrindo tudo de lama.
Ela dizia com firmeza o que esperava receber da concessionária: “Eles vão ter que arrumar, né? Não tem? Eles vão ter que fazer de novo. Tem que começar tudo de novo”. Já Adelar, discreto, reforça em poucas palavras o sentimento do casal diante do descaso: “o que eles vão fazer com isso aqui?”. O olhar de Selvina mirava o barranco enquanto o marido falava – o silêncio dela era como um grito de indignação, pois ela sentia que já não existiam mais palavras que pudessem descrever sua situação.

Entre o medo das próximas chuvas, o receio com os netos e a dúvida sobre o que mais pode acontecer com o terreno, sobra a consciência de que a dor deles não é única. Selvina repete como quem quer lembrar a todos (à concessionária, aos gestores, a quem passa pela rodovia) que por trás da duplicação existem vozes que têm sido ignoradas. E que o que está em jogo não é só barro no quintal, mas a vida de uma família inteira.


📍 Km 109, Vera Cruz
Sem definição para o crescimento
Audiodescrição:
Dizem que o coração de Vera Cruz está localizado nas margens da RSC-287. Afinal, é na beira da rodovia que se concentra o Distrito Industrial do município, sede de empresas de diferentes portes, por onde milhares de trabalhadores se movimentam diariamente. O volume intenso de veículos se torna um desafio para a duplicação, com uma demanda que parece até relativamente simples: a necessidade de acesso para os dois lados da via.
Mas uma série de indefinições e falhas de planejamento impedem que se chegue a uma solução que agrade a todos. No momento da licitação para a concessão da rodovia, por exemplo, a região foi considerada, erroneamente, como parte da zona rural. Extensas, frequentes e improdutivas reuniões, mobilizando representantes do município, do Estado, da Rota de Santa Maria e do setor empresarial, já foram realizadas em busca de uma conclusão para o dilema.
Em uma delas, em maio de 2025, foi debatido o projeto apresentado pela concessionária para o trecho – que previa a extinção do principal trevo de acesso a Vera Cruz pela RSC-287, ao lado da empresa Kopp, deixando apenas uma entrada. A reação foi extremamente negativa. O município rebateu e defendeu o uso de uma rotatória alongada e de um dispositivo conhecido como “cotonete” – um trecho que interliga duas rótulas – para viabilizar o trânsito, apesar de considerarem um viaduto como a solução ideal. O estado disse que nada seria feito sem um consenso, mas as obras têm avançado muito mais rápido do que as tratativas. E pelo que foi prometido, Vera Cruz seria uma das próximas etapas do cronograma da duplicação.
Na ocasião, Angelo Hoff, prefeito em exercício, já afirmou: “temos plena convicção de que os dados utilizados nos estudos estão subdimensionados e desconsideram o potencial de crescimento de Vera Cruz, hoje o município que mais se desenvolve em toda a região. Nossa demanda é legítima e visa não apenas atender os moradores e empreendedores de hoje, mas preparar o município para o futuro. Já dispomos de estudos técnicos sobre mobilidade, crescimento populacional e desenvolvimento econômico que justificam a criação de novos acessos”. A Prefeitura reiteradamente cita que o município passaria de seus atuais 26,7 mil habitantes para mais de 40 mil em cerca de dez anos.
Quem também esteve naquela reunião foi a empresária Eliane Wehner. Ela é proprietária do posto de combustíveis HC e de uma revendedora de veículos às margens da RSC-287, logo no início do Distrito Industrial para quem se desloca desde Santa Cruz. A empreendedora buscava, desde o início da concessão, ser a primeira a saber de qualquer eventual resposta sobre o futuro dos imóveis que se erguem no leito da rodovia. Até hoje, aguarda ansiosamente por uma resolução sobre o acesso ao seu negócio. “A gente sente que as obras estão batendo à nossa porta. E nós não temos uma definição de como vai ficar”, resume.

Ela calcula que circulam no posto, por dia, entre 700 e 800 veículos. Logo quando foram começadas as obras, esse movimento já teve uma queda, uma vez que as pessoas têm evitado passar pela RSC-287. Com a duplicação, caso não haja uma solução razoável para o acesso, ela calcula que o número cairia pela metade – o que também levaria, inevitavelmente, ao desligamento de funcionários. “A gente mata um leão por dia, tem dificuldades em arrumar pessoas, tem a carga tributária. Mesmo sendo um posto de combustível, a margem [de lucro] de um posto de combustível é muito baixa, então a gente tem que levar sempre tudo na ponta do lápis para fechar. A gente procura pensar no que fazer, em qual estratégia, como vai ser. Só que também a gente fica engessado, porque não sabe onde vai ser o acesso”, lamenta.
O posto e a revendedora possuem seus acessos devidamente regularizados e pagos junto à Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), desde antes mesmo de a concessão ser discutida. Quando a rodovia passou à iniciativa privada, Eliane se adiantou e notificou a Rota de Santa Maria apresentando sua proposta para o acesso aos empreendimentos. O prazo de resposta era de 15 dias. Dois anos se passaram sem que nem uma vírgula fosse devolvida. Muito pelo contrário: o que chegou foram duas notificações. A empresária cogita ingressar com alguma medida judicial para ter qualquer satisfação.
“Acho que as coisas precisam ser feitas e elas não podem ser resolvidas de uma forma tão a toque de caixa agora, porque as obras vão iniciar e ainda não se tem uma definição. Tudo isso já devia ter sido planejado, discutido e se chegado a um consenso muito antes. E não foi por falta de procura, nem das empresas e nem da municipalidade de Vera Cruz, que sempre procuraram a Sacyr, se reuniram N vezes, só que nunca veio uma resposta definitiva. Sempre foram muito solícitos em nos ouvir, mas não passou disso, porque nunca veio uma contrapartida, de dizer ‘vamos discutir uma solução’. Eles nos ouviam, mas era tudo. Não é a segurança de nada”, questiona Eliane.
Logo em frente ao posto, do outro lado da rodovia, também surge um problema. Ali está o acesso à chamada Linha Número Um, localidade que tem concentrado um dos maiores crescimentos populacionais de Vera Cruz nos últimos anos, com a construção de loteamentos e como possibilidade para, futuramente, sediar uma ligação alternativa entre o município e o vizinho, Santa Cruz do Sul. A proposta da Rota de Santa Maria também prevê a extinção desse acesso pela RSC-287, enquanto o município corre para reverter o cenário.
“Eles nos ouviam, mas era tudo. Não é a segurança de nada”. Eliane Wehner, proprietária do Posto e Revenda HC
📍 Km 138, Candelária
Candelária
Audiodescrição:
A cidade estava silenciosa, não se viam portas ou janelas abertas, tampouco pessoas caminhando pelas ruas – algo não incomum quando se trata de uma cidade interiorana tal qual Candelária. Contudo, não era somente o final de semana que mudaria o visual do município. A chegada da duplicação da RSC- 287 levou diversos moradores e comerciantes a terem de deixar suas residências e estabelecimentos. A rodovia atravessa uma parte da área urbana, na região do bairro Rincão Comprido, onde está o principal trevo de acesso à cidade.
Apesar da simpatia dos moradores locais, que cumprimentam mesmo os desconhecidos curiosos, há uma espécie de luto velado entre eles, como quem sabe que, em alguns meses ou anos, aquela paisagem seria diferente. Com a cara do progresso, mas não do jeito que eles conheciam. Muitas casas e comércios, que há décadas já estavam ali, sequer existiriam mais.
O clima é de incerteza. O que se vê são imóveis fechados, ofuscados pela grama alta e paredes sujas, tapados por placas de aluga-se e vende-se – que sabe-se lá quando foram colocadas. Um exemplo é um imponente prédio poucos metros antes do trevo de acesso à cidade, onde já funcionou uma conhecida loja de móveis. Em 2023, o empreendimento mudou-se para o centro. A direção do negócio diz que a decisão foi uma estratégia de mercado. Reconhece que as obras atrapalharam, mas reforça que não foi o principal motivo. Porém, desde então, ninguém mais alugou o imóvel que já estava em uma área condenada.
A preocupação também é voltada aos acessos. A rodovia passa por uma área densamente povoada, com centenas de casas se erguendo dos dois lados da via. Como os moradores iriam de um lado para o outro? Essa é a pergunta que ninguém sabe responder, apenas o tempo.




Nota de esclarecimento
A reportagem entrou em contato com a Rota de Santa Maria na terça-feira, 24 de junho de 2025, questionando sobre atualizações da obra e posicionamento acerca dos problemas aqui descritos. Até o fechamento do texto, às 18 horas de sexta-feira, 4 de julho de 2025, as perguntas ainda não haviam sido respondidas. O espaço segue aberto para manifestação da concessionária.
📍 Km 167, Novo Cabrais/Paraíso do Sul
Um desvio no meio do caminho
Audiodescrição:
Não é todo dia que acontece um desastre natural. Mas, quando acontece, cada dia que vem depois carrega um pouco dos seus reflexos. Segundo a Rota de Santa Maria, a enchente histórica de maio de 2024 afetou 16 pontos do trecho de concessão da RSC-287. Quatro deles tiveram danos estruturais mais graves, que demandaram intervenções mais longas até que pudessem voltar a receber a passagem de veículos.
Um desses locais foi a ponte sobre o Arroio Barriga, no km 167, fazendo o limite entre os municípios de Novo Cabrais e Paraíso do Sul, que sofreu um colapso estrutural. Uma estrutura relativamente simples, de apenas 15 metros de extensão. A conclusão era evidente para as equipes de engenharia: precisaria ser totalmente reconstruída, ainda mais considerando sua localização estratégica – bem na metade do caminho entre Santa Cruz do Sul e Santa Maria, próxima ao acesso a Cachoeira do Sul e a apenas algumas centenas de metros de um posto da polícia rodoviária e de uma praça de pedágio.
Pois bem: será que, com a duplicação em vista, valia a pena investir tempo, dinheiro e energia na reconstrução de uma estrutura que logo precisaria passar por uma nova ampliação? Foi a partir desse pensamento que a concessionária optou por uma estratégia – a recuperação da RSC-287 ocorreria de forma coordenada com a duplicação, ou seja, soluções definitivas só seriam pensadas quando aqueles trechos recebessem as obras. Até lá, alguma maneira provisória precisaria dar conta do recado.
Foi isso que aconteceu. Alguns metros ao lado da ponte original (ou do que restou dela), foi construído, em pouco mais de um mês, um desvio provisório para restabelecer a ligação entre Paraíso do Sul e Novo Cabrais. Para isso, foram utilizadas galerias de concreto pré-moldadas, erguendo a nova travessia em um nível um pouco mais baixo que o da passagem original.
O desvio não era perfeito e impunha limitações, como uma velocidade máxima de 40 km/h ou o uso constante do sistema pare e siga; mas, ainda assim, deu para o gasto – só que com prazo de validade limitado. Faltando pouco menos de um mês para que a nova passagem completasse seu primeiro aniversário, em maio de 2025, uma chuva forte causou danos na estrutura e exigiu o bloqueio do trânsito. No mesmo dia, estava tudo “resolvido” – mas isso não mudava o fato de que aquele continuava sendo apenas um desvio provisório.
Passado um mês desse episódio, em uma terça-feira de junho, mais uma chuvarada. E o que aconteceu? Novamente, a estrutura teve problemas e precisou ser interditada. Mais uma vez, reparos emergenciais garantiram a retomada do tráfego ainda no mesmo dia – porém, isso só durou algumas horas. À noite, a chuva se intensificou e causou novo bloqueio: o terceiro em pouco mais de um mês.
Se a ponte original precisou da maior enchente da história do Rio Grande do Sul para colapsar, a passagem provisória nem exigiu tanto. Bastou a chuva seguir ao longo da madrugada que, pela manhã de quarta-feira, o Arroio Barriga, normalmente um riacho tão ralo quanto uma poça d’água, já apresentava alguma correnteza – suficiente para levar embora o desvio, tão provisório que mal conseguiu durar um ano.
O dia seguinte já seria um feriado, momento de intensa movimentação na rodovia. Mas não tinha muito o que fazer a não ser indicar desvios – que aumentariam a viagem de Santa Maria a Santa Cruz do Sul em pelo menos uma hora e meia. Na sexta-feira, após reparos emergenciais, foi liberado provisoriamente o trânsito no desvio. E apenas para veículos leves e pequenos caminhões.




Enquanto são feitas obras provisórias no desvio que já era provisório, a construção de uma ponte definitiva parece até ser um tabu. A Rota de Santa Maria projeta incluir esse trecho nas obras de duplicação ainda em 2026, assim como os outros pontos mais afetados pelas enchentes. Mas até onde soluções temporárias sobrevivem à nova realidade climática?
📍 Km 185, Agudo
Prato cheio de prejuízo
Audiodescrição:

Às margens da RSC-287, no município de Agudo, o restaurante Da Terra Produtos Coloniais é mais do que um ponto de encontro, é uma parada quase obrigatória para quem cruza o trecho entre Santa Cruz do Sul e Santa Maria. Conhecido pela gastronomia típica da cultura germânica, o local reflete as raízes da cidade, uma das principais referências desse tradicionalismo no estado. Mas, para Jardel Costa, gerente do espaço, o que antes era rotina de trabalho se transformou em incerteza e prejuízo. A duplicação da rodovia, anunciada como avanço para o Rio Grande do Sul, travou obras, comprometeu estruturas e ainda ameaça o fluxo de clientes que mantêm o negócio vivo.
Em janeiro de 2024, um temporal arrancou o telhado da parte da frente da conhecida cabana, justamente a área que protegia a entrada nos dias de chuva. No momento da reconstrução, veio a surpresa. “Nós tínhamos começado a fazer de novo, aí foi trancado por causa deles, aí veio a polícia e trancaram. Não pudemos mais fazer, tivemos que recolher todo o material de volta e guardar”, lamenta o gerente. A obra foi interditada. O telhado não pôde ser concluído e o restaurante ficou meses exposto, sem proteção. “Quando nós fomos terminar o resto, aí não pudemos. Foi trancado, veio a notificação… fórum… envolvendo mais coisas”.

As consequências foram imediatas. Dias de chuva passaram a significar alagamento dentro do espaço. “Chovia, alagava aqui. Dia de chuva, que nem agora, ainda alaga. […] Escorria água toda aqui para dentro. Afetou um pouco a estrutura. Porque tínhamos tirado toda a parede para botar uma parede nova pra deixar tudo em ordem”. A estrutura danificada precisou ser refeita, mas só após uma batalha judicial. “Aí conseguimos, ficou um ano parado, mas conseguimos pelo menos ganhar para arrumar”.
Com a duplicação, os impactos vão além. Jardel calcula que dois estacionamentos serão perdidos, com capacidade de cerca de cem veículos cada um. “Vamos perder uma parte dos dois estacionamentos, em torno de cem carros cada, e a parte que era para dia de chuva, que encostava os carros embaixo para não alagar o pessoal”. A área frontal, que antes permitia que os veículos parassem sob o telhado e deixassem os passageiros protegidos, já não poderá ser usada.

A saída está sendo improvisada. “Nós temos uma área aqui do lado, vamos ter que desmanchar um local que nós temos de espera […] vamos desmanchar para fazer o estacionamento para os carros. Aterrar, botar pedra e coisa pra tentar manter os carros. Manter sempre a clientela que nós sempre temos”. Mesmo com adaptações, o prejuízo é certo. O novo estacionamento ficará mais distante da entrada, e Jardel teme o impacto no movimento, especialmente em dias de chuva. “O estacionamento vai ficar para trás, não vai ser na frente […] Vai ficar longe para o pessoal vir, né? Assim, pelo menos aqui na frente é melhor, né?”.
A falta de diálogo com a concessionária é uma das principais queixas. Jardel afirma que soube das restrições somente quando a obra foi interrompida. “Não foi informado nada. Quando nós estávamos fazendo, aí só chegaram e mandaram nós tirar”. Ele também relata que, em vez de indenização, recebeu multa por ter reerguido o telhado.


O acesso também segue indefinido. Quem vem de Santa Maria, por exemplo, terá dificuldades para entrar no restaurante. “A princípio, o que eu fiquei sabendo, não é pra ter… de Santa Maria pra cá é pra ter um acesso só lá em cima, tem que fazer o retorno lá na igreja São José. […] Isso seria uns 2,5 quilômetros”. Essa mudança preocupa, especialmente para um ponto que depende de alto fluxo de veículos e fácil entrada.
A obra ainda não começou em frente ao restaurante, mas Jardel sabe que, quando vier, virá rápido e com pouco aviso. “Quando vem, vão informar em cima do laço”, diz, com o olhar de quem vem aprendendo a se antecipar. Enquanto isso, tenta adaptar o espaço e manter a clientela fiel, sem saber ao certo como ficará o acesso e nem quando as máquinas vão chegar. No Da Terra, o planejamento acontece dia após dia, entre a persistência e o receio de ser atropelado por uma decisão que nunca passou pela sua escuta.
📍 Km 226, Santa Maria
Soldado de ferro
Audiodescrição:
O vento frio da manhã assobiava fraquinho nos ouvidos do jovem militar. Seu olhar distante mostrava que passara a noite em claro observando o movimento dos carros que transitavam sobre a ponte de ferro, estrutura que foi erguida pelo exército brasileiro após as fortes chuvas que assolaram o estado no ano anterior. Os momentos de aflição vividos durante as enchentes ainda eram muito vívidos para o soldado.
Quando a ponte, que ele agora zela, era construída, ele ainda não estava no exército, apenas tinha aquela posição como sonho. Bom, não exatamente aquela posição, de vigia noturno de uma ponte, mas poder estar começando a realizar seu sonho já o deixava alegre. Ao olhar a estrutura pensava em como teria sido participar da construção, em como poderia ter ajudado a população durante o período. Tudo o que ele queria era poder ser útil.
Sua missão era simples: cuidar para que nenhum veículo de mais de 36 toneladas passasse por ali. No início era muito fácil: ele andava um pouco, acenava com a cabeça para os carros passantes e fazia sinal para que diminuíssem a velocidade, mas a madrugada vinha chegando e junto dela um bocejo ou dois. Naquele momento a cadeira de plástico que ficava ao lado da guarita parecia bem mais confortável do que realmente era.
As horas passavam e os olhos do então guarda da ponte ficavam cada vez mais pesados. Escorado nas paredes da guarita, ele tentava cochilar, mas de tempos em tempos era bruscamente acordado pelo alto e grave som produzido pela estrutura de ferro ao entrar em contato com as rodas de um veículo.
Depois de muitas horas, o jovem já não se sentia mais importante em sua posição. Havia relutado muito contra a vontade de sentar-se, queria estar a postos, preparado para qualquer coisa, mas não conseguia mais. Sentou-se e ali ficou pelo tempo restante de seu turno, os olhos vidrados no nada e a mente voltada ao sonho de um futuro melhor.

📍 Km 232, Santa Maria
O ponto final da rota
Audiodescrição:
O nome adotado pela empresa subordinada ao grupo Sacyr, Rota de Santa Maria, não foi por acaso. A RSC-287 foi construída, de fato, para ser uma ligação entre a região metropolitana de Porto Alegre, onde está concentrada a maior parte da população e do poder econômico do Rio Grande do Sul; com Santa Maria, principal polo da metade oeste do estado.
Com quase 300 mil habitantes, o município concentra uma oferta de infraestrutura e serviços muito maior que qualquer outro das proximidades. 80% do PIB é oriundo do setor terciário, que representa o comércio e serviços. É considerada uma cidade universitária, sediando a Universidade Federal de Santa Maria, a segunda mais importante do Rio Grande do Sul, além de outras oito instituições de Ensino Superior. Sua relevância para a ciência também é notória – ela é o berço da paleontologia no país. Ademais, a cidade é sede para importantes estruturas do exército brasileiro. Todos esses fatos contribuem para a necessidade de um acesso digno entre o restante do estado com esse centro regional.
Santa Maria foi construída como uma cidade longitudinal, ou seja, quem segue de leste a oeste percebe bem onde ela começa e onde ela termina. A área urbana é totalmente atravessada pela 287, que chega como uma rodovia estadual e sai como uma federal. A parte que está sob a concessão da Rota de Santa Maria, na verdade, é apenas uma ponta da cidade: um trecho de 1.700 metros entre o pórtico de entrada, junto ao monumento de um avião que simboliza a localização da base da Força Aérea Brasileira, e o trevo com a ERS-509, também conhecida como Avenida Prefeito Evandro Behr.
Contudo, ao contrário das outras cidades por onde a RSC-287 passa, onde a apreensão toma conta das comunidades, o cenário nesse trecho é outro – como se nem houvesse uma duplicação batendo à sua porta. Enquanto em outras regiões a paisagem dos arredores da rodovia é dominada por placas de vende-se e aluga-se, parece que nada mudou em Santa Maria.
As margens, tomadas por oficinas mecânicas, postos de combustíveis, revendedoras de pneus e cooperativas de reciclagem, são desertas em uma tarde de domingo. Com o frio que faz, moradores preferem o aconchego de suas casas em vez de se preocuparem com os problemas do mundo lá fora, que ainda aparentam ser distantes.
Acontece que eles não estão tão longe assim. Por mais que, em entrevistas, o diretor-geral da concessionária, Leandro Conterato, tenha afirmado que é impossível começar a duplicação no trecho urbano de Santa Maria ainda em 2025, a expectativa é de que as máquinas já estejam a postos para iniciar os trabalhos entre 2026 e 2027. Para isso, ainda seria necessária a desapropriação ou desocupação de alguns imóveis, fora tantos outros trâmites administrativos que ainda causarão dores de cabeça ao município.


Quem chega a Santa Maria pela RSC-287 não precisa rodar muito para se deparar com a placa que indica, em letras garrafais, FIM DO TRECHO SOB CONCESSÃO DA ROTA DE SANTA MARIA – mas, na verdade, ainda está bem longe do fim. Esse é só começo de uma longa jornada que vai muito além dos 204,5 quilômetros que estão atualmente administrados pela iniciativa privada, que passa pela história e pela vida de milhares de famílias. O que acontecerá daqui para a frente? É o que todos querem saber.


Por Bruna Weis, Expedito Engling e Guilherme Andriolo
Estudantes de Jornalismo da Unisc