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Por Giovana Arruda
Rio Pardo, com suas ruas históricas e paisagens que respiram tradição, vivencia uma história que se desenrola em cada sala de aula do ensino médio. É ali que jovens cheios de esperança e expectativa preparam-se para o maior salto de suas vidas até então: a transição para o mundo pós-escolar. Para muitos, esse futuro tem as cores da universidade, vista como um farol de oportunidades e conquistas. Porém, entre o sonho e a realidade, existem obstáculos que tornam essa jornada mais difícil, exigindo resiliência e planejamento. Para entender melhor os desafios e as metas desses jovens, a equipe de reportagem conversou com alguns estudantes de Rio Pardo. Suas respostas ilustram como é essa fase de preparação, as mudanças de planos, as preocupações e as expectativas que moldam o caminho rumo ao ensino superior.
Ao ser perguntada sobre a preparação para o vestibular, Catarina, 16, revelou sua estratégia, focada nas habilidades principais exigidas pelos exames: “eu me preparei para o vestibular me dedicando bastante aos estudos de redação, com foco especial na escrita, na ortografia correta das palavras e na clareza textual”.
Quando o assunto é a entrada na universidade, a adaptação à rotina acadêmica surge como um grande desafio: “acho que a maior dificuldade seria me adaptar à rotina da faculdade, principalmente em relação ao tempo. Tenho algumas preocupações na parte de não conseguir entrar na faculdade, de que eu não consiga dar conta de tudo e acabar não conseguindo realizar um sonho”. Além disso, Catarina comenta a dificuldade em relação à questão financeira e a necessidade de fazer dupla jornada: “sei que não é tão simples, preciso trabalhar e estudar ao mesmo tempo”.
A instabilidade econômica do país é um dos fatores que levam muitos jovens a entrar diretamente no mercado de trabalho ao finalizar a escola. Os custos da vida acadêmica, incluindo moradia, transporte, alimentação e material didático, são uma barreira real para famílias de baixa renda.
Esse receio de não dar conta é algo comum entre muitos jovens que enfrentam um cenário cada vez mais competitivo. A falta de orientação dentro das escolas faz com que muitos estudantes se sintam perdidos, levando, às vezes, à desistência precoce de seus planos ou à escolha de cursos sem verdadeira vocação, o que aumenta o abandono acadêmico. Perguntado sobre como a escola poderia ajudar mais, Felipe, 17, destacou a importância de suporte: “a escola poderia fazer mais coisas para incentivar a gente a entrar na faculdade, trazer mais informações sobre os cursos, fazer visitas em universidades, dar espaço pra gente conversar com ex-alunos ou profissionais das áreas que a gente quer seguir”.

Essas ideias reforçam a importância de oferecer orientação prática e conexões reais entre o mundo universitário e profissional. Apesar das dificuldades, há um compromisso sólido com o planejamento: “sei que não vai ser fácil, mas pretendo organizar uma rotina que me ajude a dar conta dos estudos e das outras responsabilidades. Acredito que, com planejamento e foco, vai ser possível conciliar tudo”, declara Felipe.
A situação enfrentada em Rio Pardo reflete um cenário mais amplo: as dificuldades de acesso ao ensino superior no Sul do Brasil. A porcentagem de estudantes que concluem o ensino médio e realmente ingressam na universidade, especialmente nas concorridas instituições públicas, têm caído. Conforme dados do último censo do IBGE, de 2022, apenas cerca de 21% dos alunos saem das escolas e ingressam em graduações.
O cenário é ainda mais desafiador nas universidades públicas, onde a disputa por vagas é extremamente acirrada, com notas de corte altíssimas que exigem um desempenho quase perfeito dos alunos. Já nas instituições particulares, o acesso depende de iniciativas como o FIES, que teve aproximadamente 88% de queda em contratos assinados nos últimos anos, e o ProUni, que contou com uma redução de 34%, o que tem dificultado o ingresso de alunos de baixa renda.
Muitos jovens acabam desanimando ao perceber que o diploma universitário não garante estabilidade e sucesso como antes. Com isso, cresce o interesse por cursos técnicos e profissionalizantes, que prometem uma entrada mais rápida e prática no mercado de trabalho. Adicionalmente, o empreendedorismo e as profissões digitais também têm atraído os jovens, desviando o foco da graduação tradicional.
A transição do ensino médio para o ensino superior é, sem dúvida, um momento desafiador e cheio de decisões cruciais para os jovens de Rio Pardo e de toda a região Sul do Brasil. As falas dos estudantes entrevistados, com suas preocupações e medos tão reais, mostram o equilíbrio delicado entre a esperança de um futuro melhor e os obstáculos que se apresentam.
Para que a realidade da universidade seja acessível a todos, independentemente de sua origem socioeconômica, é essencial unir esforços de diversas frentes. Escolas, governos e sociedade civil devem estar empenhados em uma educação básica que não só transmita conteúdo, mas também desenvolva senso crítico e autonomia dos estudantes. É urgente ampliar e fortalecer programas de apoio financeiro, garantindo que os jovens possam permanecer na universidade. Além disso, a orientação vocacional deve ser assertiva, contínua e incluir uma maior variedade de opções de ensino superior e técnico, a fim de atender aos diferentes talentos e demandas do mercado.
Apenas com essas mudanças será possível criar um futuro onde os jovens de Rio Pardo, e de todo o Brasil, possam não apenas sonhar, mas também conquistar uma educação superior, construir carreiras sólidas e ter vidas que façam sentido para si.
* A identidade dos entrevistados foi preservada ao longo da reportagem, os nomes mencionados são fictícios.

Por Giovana Arruda
Estudante de Jornalismo da Unisc